Depois do sucesso do post explicando o que acontece na Venezuela, o pessoal do blog se empolgou e resolveu explicar também o que acontece na Ucrânia. Afinal, à primeira vista, a Ucrânia parecia ser um país normal, mas neste ano tudo mudou da água pro vinho.
Razões do conflito
Aparentemente, era um governo normal, até o presidente inventar de ficar amiguinho da Rússia, sendo que durante muitos anos a Rússia dominou a Ucrânia e os outros países do Leste Europeu, formando a U.R.S.S. durante quase todo o século XX.
A Guerra Fria ocorreu do final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até o início dos anos 90, quando a União Soviética se desfez. A Ucrânia, como você já leu, fazia parte desse bolo até 1991, quando conseguiu se desligar.
O conflito interno na Ucrânia está relacionado com divisões geográficas e culturais do país. A Ucrânia Central e Ocidental é mais próxima à Europa e é onde existe uma tradição cultural ucraniana. A Ucrânia do Sul e Oriental é mais próxima à Rússia e sua população é de maioria russa. Essa divisão traduz-se no apoio ou não do presidente Viktor Yanukovych, já que os ucranianos do centro e do ocidente são os principais opositores do regime, e o apoio ao presidente estaria nas regiões orientais e sul.
Tais divisões expressam-se ainda em diferentes vertentes de nacionalismo. Isso possivelmente explica que parte dos líderes dos protestos seja de direita e de extrema-direita, muitos simpatizantes do fascismo e do nazismo.
Fita usada pelos manifestantes |
Muitos ucranianos, assim como os outros habitantes dos países do Leste Europeu, morrem de medo de voltar a serem russos, perdendo as suas soberanias como nações independentes. Mas a Rússia sempre tenta se reaproximar desses países, com acordos econômicos.
A Ucrânia havia passado por protestos parecidos há dez anos atrás, quando ocorreu a chamada Revolução Laranja. Esse movimento tentava acabar com o domínio do ex-presidente Leonid Kuchma. O candidato apoiado por ele era o pró-Rússia Viktor Yanukovych, mas foi o pró-Ocidente Viktor Yuschenko quem venceu a eleição. Mas as eleições foram contestadas, o que levou a uma série de protestos, em que os manifestantes usavam uma fitinha laranja. Dois anos depois, houve uma nova eleição, em que Viktor Yanukovych assumiu o poder, e estava lá até agora.
Tava tudo na maior calmaria, até que no ano passado, mais especificamente em novembro, Yanukovych rejeitou um acordo com a União Europeia, preferindo uma aproximação comercial com a Rússia. Foi aí que milhares de pessoas favoráveis à integração com a Europa resolveram protestar pacificamente e ocupar a Praça da Independência. Tudo isso foi duramente reprimido pela polícia, o que incluiu o surgimento de várias leis restringindo a liberdade de expressão e a prisão de vários ativistas e políticos opositores, o que fez com que as demonstrações antigoverno se intensificassem. Aí, a motivação dos protestos mudou: em vez dos protestos anti-Rússia, passou a ser anti-Yanukovych.
Há ainda uma série de fatores que tem levado as pessoas às ruas, como a crise econômica, a desigualdade social, a corrupção, o sucateamento dos serviços sociais, a pobreza e o desemprego.
A reação de Yanukovych
Com o aumento da violência dos protestos, Yanukovych sugeriu acordos. Um deles deu certo: o que previa anistia a manifestantes presos e a desocupação dos opositores de prédios estatais.
A oposição também pedia que o Parlamento discutisse mudanças na Constituição para reduzir os poderes presidenciais. Como isso não foi aceito, opositores promoveram manifestações diante do Legislativo. O presidente havia assinado um acordo com líderes da oposição, após conversas com chanceleres de três países europeus (França, Alemanha e Polônia), no qual ele ofereceu eleições antecipadas (em dezembro) e a formação de uma nova coalizão de governo, dizendo-se preparado para reformar a Constituição e devolver mais poderes ao Parlamento. Mas na noite deste sábado, a guarda armada ao redor dos escritórios governamentais sumiu; o destino de Yanukovych também se tornou incerto. Aparentemente, ele deixou a capital, mas deu uma entrevista de TV insistindo que ainda está no poder. Só que sua arquirrival Yulia Tymoshenko foi libertada e levada a Kiev, cidade que Yanukovych parece não mais controlar. Muitos de seu partido também parecem desertá-lo. Mas Yanukovych foi destituído - não antes de denunciar estar sendo vítima de um golpe, e as eleições foram marcadas para maio.
A Rússia e os apoiadores de Yanukovych
A Rússia perdeu a Guerra Fria, mas quer voltar a ser uma potência mundial, fazendo frente à China, aos EUA e à União Europeia. Eles fizeram acordos comerciais com países próximos, e o presidente russo Vladmir Putin vê a Ucrânia como uma região estratégica e essencial para que esse plano russo dê certo. Por isso Yanukovych recebe tanto apoio de lá. Os ucranianos que falam russo (principalmente os que vivem no Sul e no Oriente) também defendem a aproximação da Ucrânia com a Rússia, sendo os maiores apoiadores de Yanukovych no país.
A Rússia apoiou Yanukovych durante a Revolução Laranja de 2004, suspendeu empréstimos quando o governo ucraniano renunciou e restringiu o comércio bilateral quando a Ucrânia flertou com o Ocidente. A UE chamou isso de pressão econômica "inaceitável". Moscou acusa a UE de tentar fazer o mesmo ao oferecer acordos de livre comércio a Kiev. Nos bastidores, acredita-se que esteja operando também a grande força de ricos oligarcas ucranianos. O mais rico deles, Rinat Akhmetov, emitiu comunicado apoiando protestos pacíficos. Outros oligarcas parecem apoiar Yanukovych.
A União Europeia e os opositores de Yanukovych
A UE também quer comercializar com a Ucrânia, e defende que a aproximação com a Europa e eventual entrada no bloco europeu trariam bilhões de euros ao país, modernizando sua economia e dando-lhe acesso ao mercado comum europeu. No leste, muitos ucranianos que trabalham em indústrias (fornecedoras da Rússia) temem perder seus empregos se Kiev se aproximar da Europa. Mas, no oeste, muitos anseiam pela prosperidade e pelo estado de direito que, acreditam, podem ser alcançados com acordos com a UE. Essa aproximação minaria os sonhos russos de serem potências mundiais e fortaleceriam a desgastada economia europeia.
Os opositores de Yanukovych são os que apoiavam Yuschenko há uns dez anos atrás. Eles saíram derrotados na Revolução Laranja e não se conformam em ver a Rússia se aproximar do país de novo. Muitos opositores são de extrema direita e neonazistas, e esses são os manifestantes mais violentos, mas aparentemente, eles não são tão queridos pelos ucranianos normais.
O mais organizado dos partidos da oposição é o Svoboda (Liberdade), com células de ativistas em várias regiões. Há ainda uma coalizão de grupos neonazistas denominados Setor Direita, que ganharam bastante apoio após os enfrentamentos na praça da Independência. Individualmente, o principal nome da oposição é o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, líder do movimento chamado Udar (soco), possível candidato à presidência em 2015, com o lema “um país moderno com padrões europeus”.
Outra liderança da oposição a Yanukovych é a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, presa desde 2011, em decorrência de acusações de abuso de poder, durante a realização de um acordo sobre gás com a Rússia, em 2009.
Os policiais deixaram de apoiar o presidente, assim como o exército, que se declarou neutro. Os Estados Unidos também disseram que não iriam se meter em um comunicado oficial, apesar de terem comemorado a libertação de Tymoshenko.
A Ucrânia será dividida?
Já testemunhamos a divisão arbitrária da Alemanha no final da Segunda Guerra Mundial (que se reunificou em 1989), e a divisão da Coréia em Norte e Sul em 1953, que não se reunificou até agora e vive em pé de guerra. A divisão da Ucrânia (neste caso em Leste e Oeste) é cogitada pelas diferenças entre essas duas regiões, tanto na política quanto no idioma e na cultura.
É com base nisso, alguns analistas creem que o país pode rachar ao meio, de forma violenta, caso não se negocie uma saída para a crise. Outros alegam que essa divisão é improvável - e que, mesmo no leste pró-Rússia, muitos se identificam como ucranianos.
Qual a importância econômica da Ucrânia?
O país é um grande produtor de aço, trigo, açúcar, carne e laticínios, mas depende das fontes energéticas russas, em especial a de gás natural, embora seja autossuficiente em virtude da existência de usinas nucleares e hidrelétricas. No setor de manufaturados, o país fabrica equipamentos metalúrgicos,
locomotivas a diesel, tratores e automóveis. A Ucrânia possui uma enorme base industrial de alta tecnologia, inclusive grande parte das antigas indústrias soviéticas de eletrônicos, armamentos e artigos espaciais, embora estes setores sejam estatais e sofram com dificuldades na área de administração de negócios.
O artigo é superficial e contem conclusões erradas e, no mínimo, precipitadas. Não se pode explicar a situação e a crise da Ucrânia de hoje, sem mergulhar mais na história desta região. Também não se tocou no problema da Crimeia, sua independência e reintegração pela Rússia.
ResponderExcluirPor todo isto não recomendo!