quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Eles não querem a Copa

Em 2007, na escolha do país sede pra Copa do Mundo de 2014, a Fifa queria por que queria que fosse na América do Sul. O Brasil se apresentou como único candidato, e foi escolhido como país sede. Brasileiros comemoraram, por terem a chance de ganhar uma Copa em casa. Os argentinos e uruguaios também, pois ficaram doidinhos pra repetir o Maracanazzo de 1950. E o governo dizia que a maioria dos investimentos seriam de empresas privadas.

Já estamos em 2014. Alguns estádios ficaram prontos, e outros estão atrasados, com destaque para Curitiba, que correu o risco de ficar de fora da Copa. Os gastos não param de aumentar e os desvios de verbas também não. Continuamos com problemas de transportes, segurança, saúde, educação, mas tudo é aparentemente ignorado pelos dirigentes e patrocinadores, que falam aos quatro ventos que esta será a Copa das Copas.
Ano passado, tivemos os protestos. Cidadãos indignados resolveram sair do Facebook e do Twitter pra reclamar da Copa do Mundo um ano antes da véspera. As autoridades ficaram preocupadas, com medo de que a Fifa desistisse de tudo e o Brasil tivesse que pagar uma enorme multa. Mas, até agora, tudo corre bem e o Brasil continua firme e forte como sede da Copa do Mundo de 2014.

Mas, para algumas pessoas, não deveria haver copa do mundo. Alás, pra elas, não vai ter nem Copa. Principalmente se os direitos humanos não forem respeitados.

No dia 10 de dezembro do ano passado, Dia Internacional dos Direitos Humanos, foi lançado um manifesto do movimento com o título "Se não tiver direitos, não vai ter Copa", que dizia: "Junho de 2013 foi só o começo! As pessoas, os movimentos e os coletivos indignados que querem transformar a realidade afirmam através das diversas lutas que sem a consolidação dos direitos sociais (saúde, educação, moradia, transporte e tantos outros) não há possibilidade do povo brasileiro admitir megaeventos como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas. Isso significa que as palavras de ordem no combate a esses governos que só servem às empresas e ao lucro devem ser: 'Se não tiver direitos, não vai ter Copa!'", dizia um trecho do manifesto.

E dizem também: "Nossa proposta é barrar a Copa! Mostrar nacionalmente e internacionalmente que o poder popular não quer a Copa!". E sobre as manifestações contra o aumento da tarifa de transportes que detonaram a onda de protestos em junho, eles falam: "Os dirigentes políticos disseram que era impossível atender a pauta das manifestações pela revogação do aumento, entretanto o poder popular nas ruas nos mostrou que realidades impossíveis podem ser transformadas, reivindicadas e conquistadas pelo povo. E mesmo assim dirão: 'mas isso é impossível!' Então nós diremos: 'o impossível acontece!'".

Os cinco movimentos que assinam o manifesto são o já conhecido Movimento Passe Livre (MPL), um dos principais catalisadores dos protestos políticos em junho com a pauta do modelo de transporte público; Fórum Popular de Saúde do Estado de São Paulo, articulação que reúne diversos coletivos em defesa das melhorias na saúde pública; o Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais, que reúne, principalmente, assistentes sociais que atuam em São Paulo; o Periferia Ativa, fundado por comunidades da zona sul e da região metropolitana da capital paulista; e o Comitê Contra o Genocídio da População Preta, Pobre e Periférica, que combate a violência da polícia e dos grupos de extermínio ligados a ela que atuam nas periferias.

Os focos desses movimentos são diversos, mas interligados entre si. O que eles desejam, em geral, é buscar uma melhoria de vida para os mais pobres e excluídos. Eles dizem não ter filiação política, mas pelas pautas, percebe-se que seu viés é esquerdista, e dos mais radicais.

Sérgio Lima, militante do Fórum Popular de Saúde, explica os objetivos do grupo: "A meu ver, é dizer que a gente não precisava da Copa nesse momento, diante de tantas mazelas em transporte, educação, saúde. Acredito que é nesse sentido".

Quanto às críticas de petistas de que o movimento "Não vai ter Copa" serve aos partidos de direita, ele dá risada. Conta que, inclusive, já foi filiado ao PT. "Eles sempre dizem isso", desdenha.

"Se tem alguém de direita ali, está muito bem escondido", afirma Sérgio Lima. Maurício Carvalho, do Juntos!, concorda: "Nós estamos elaborando uma lista de reivindicações de direitos básicos de algumas bandeiras que estão envolvidas em seis eixos: saúde, educação, transporte, moradia, contra a ingerência da Fifa e contra a repressão. E todas essas bandeiras são históricas que a esquerda e os movimentos sociais construíram".

Os dados oficiais


O brasileiro quer Copa do Mundo, só não quer ser (ainda mais) roubado pelos nossos dirigentes. E esses dados abaixo são de estudos oficiais encomendados pelo Ministério do Esporte (se são verdadeiros ou não, aí eu já não sei).

Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com a renomada empresa de consultoria Ernst & Young para o Ministério do Esporte em 2010 diz que a Copa irá gerar R$ 183 bilhões de faturamento em um período de dez anos (de 2010 e até 2019) devido a impactos diretos – investimentos em infraestrutura, turismo, empregos, impostos, consumo – e indiretos – via circulação de todo esse dinheiro no país.

Somente em obras de infraestrutura, os investimentos deverão alcançar R$ 33 bilhões, entre estádios, mobilidade urbana, portos, aeroportos, telecomunicações, energia, segurança, saúde e hotelaria.

No turismo, os números apurados pela consultoria mostram que circularão 600 mil turistas estrangeiros e 3 milhões de turistas nacionais, aumentando em cerca de 50% o faturamento do turismo no país – de cerca de 6 para cerca de 9 bilhões de reais.

Somando empregos para trabalhadores permanentes e temporários, eles devem incrementar o PIB em R$ 47,9 bilhões.

Segundo a consultoria citada, “Os R$ 5 bilhões a serem injetados no consumo pela renda gerada por esses trabalhadores equivalerá a 1,3 ano de venda de geladeiras no Brasil ou 7,2 milhões de aparelhos”.

A expectativa é a de que a Copa crie mais de 700 mil empregos entre permanentes e temporários.

FGV e Ernst & Young ainda afirmaram que devem ser arrecadados “R$ 17 bilhões em impostos, o que representará mais de 30 vezes os R$ 500 milhões em isenções fiscais que serão concedidas à Federação Internacional de Futebol (Fifa) e empresas por ela contratadas para a realização do Mundial”.

Os tributos federais a ser arrecadados com a Copa deverão chegar a R$ 11 bilhões, deixando um saldo positivo de R$ 3,5 bilhões em relação aos investimentos federais na realização do campeonato.

Segundo o estudo, o total seria:

Os impactos indiretos da Copa na economia do país com a recirculação do dinheiro são calculados pelo estudo em R$ 136 bilhões, até 2019, cinco anos depois da Copa. Um impacto pós-Copa, impossível de dimensionar financeiramente transforma-se em turismo futuro. Além disso, as obras que modernizarão estádios nas 12 cidades-sedes também geram riqueza e impacto no PIB. Este valor, somado aos R$ 47 bilhões dos impactos diretos, leva aos R$ 183 bilhões que o estudo calcula que a Copa vai gerar para o país”.

Então, diante de gastos de cerca de 30 bilhões de reais para realizar a Copa de 2014 no Brasil, haverá um faturamento bruto de 183 bilhões de reais.

A opinião da imprensa


Chamada de fascista e manipuladora, a imprensa sempre cobriu os protestos, e quando os jornalistas saíam feridos, eles quase sempre acusavam os PMs. Os PMs acusavam os Black Blocs e os manifestantes sempre desmentiam a polícia. O fato é que os jornalistas, principalmente da Globo, comeram o pão que o Diabo amassou nas mãos desses "arautos da democracia". Um carro da Rede Record foi queimado e os jornalistas da Rede Globo foram xingados de tudo quanto é nome e tiveram que esconder o logotipo da emissora pra não apanhar mais.
Mas, quando o jornalista Santiago Andrade faleceu nas mãos de um Black Bloc, a imprensa (e principalmente a Globo) caiu matando em cima dos manifestantes. Foram tantas coberturas sensacionalistas sobre o caso que o telespectador ficou enjoado. E a Globo logo tratou de ligar os culpados ao deputado do PSOL Marcelo Freixo, que se defendeu acusando seu acusador - o advogado  - de advogar para milicianos.
Para fazer esse post, pegamos uma matéria do UOL sobre o assunto, apresentando os ativistas como militantes em defesa dos fracos e oprimidos que lutam contra um gigante muito poderoso. Já o recopiano Paulo Henrique Amorim (que falou diversas asneiras durante a sua carreira) se posicionou contra o movimento, comparando os manifestantes mais radicais aos militantes nazistas e dizendo que esse movimento só fazia sucesso nos círculos esquerdistas. O portal Terra liga os rolezinhos e os Black Blocs ao "Não Vai Ter Copa". O colunista Márvio dos Anjos, da Globo.com, trata com ligeiro sarcasmo quem é contra a Copa, mas não deixa de lembrar dos elefantes brancos e das roubalheiras que marcaram esse evento. Quase a mesma opinião de Vinícius Torres Freire, da Folha de São Paulo. Mas, aparentemente, um grande veículo da imprensa apoia o movimento: o Jornal O Estadão, com seu editorial "O governo, a Copa e a rua", do dia 24 de janeiro, que pedia cautela do governo no trato com os manifestantes, esbravejava contra a repressão policial e o modo como as negociações entre manifestantes e o governo estavam indo. E depois do ataque ao Santiago Andrade, eles divulgaram um texto dizendo que os Black Blocs fariam coisas muito piores com delegações estrangeiras e turistas.

O governo



O governo petista já se antecipou e criou a sua própria tag: #VaiTerCopa, justamente para combater os protestos e divulgar o evento. Mas, oficialmente, eles não admitem que essa atitude é uma resposta aos protestos anti-Copa. O responsável por gerenciar as redes sociais do PT, o vice-presidente do partido, Alberto Cantalice, afirmou ao Estadão que a ideia "Não teve um objetivo concreto. É porque as pessoas ficam cobrando que a gente fale alguma coisa."

"Não foi uma coisa para fazer resistência a movimentação popular, até porque a população é amplamente favorável à Copa", afirmou. Ele disse ainda que a ideia de colocar mensagem na página do PT e da presidente foi uma forma de "testar, para ver se a mensagem ia pegar". "Não foi nada articulado, só colocamos ali para ver como ia ser e foi extremamente positivo", avaliou.

Até a tarde desta segunda-feira, horário da divulgação da reportagem, a mensagem postada pelo PT havia sido compartilhada por 595 pessoas e curtida por 1.059 pessoas. A página petista tem pouco mais de 75 mil seguidores. No caso da página da presidente, o texto foi replicado por 1.796 e curtido por mais de 5 mil pessoas. A página de Dilma possui 185 mil fãs.

Além disso, o governo tem se empenhado em divulgar as coisas boas do evento, opiniões de pessoas favoráveis à Copa e as obras e estádios que já estão prontos ou quase prontos, como o Beira-Rio.


A realidade


Se não tiver Copa, todos os estádios construídos virarão enormes elefantes brancos sem nenhuma funcionalidade (eles já se transformariam nisso, mas pelo menos com a Copa, eles teriam sido usados pra alguma coisa), perderíamos bastante credibilidade lá fora (pra não dizer que viraríamos motivo de piadas e chacotas), além da enorme e salgada multa de  , que sairia de quem? De quem? Do nosso bolso, já tão esvaziado pelas autoridades corruptas.
A oposição, principalmente o PSDB, se daria muito bem se não tivesse Copa, e eles certamente venceriam a eleição. E se os protestos fossem muito grandes e violentos, poderia até rolar um golpezinho de estado para retornarmos aos tempos da Ditadura. Legal, não?

2 comentários:

  1. Ótimo post! Realmente, o PSDB era quem mais lucraria com esses protestos, pois a Dilma certamente perderia a eleição. Mas, acho que a Globo se daria bem também, pois volta e meia eles bajulam a ditadura. Lembre-se de que em três novelas, a Globosta fez propaganda dos militares: Lado a Lado - Marinha; Flor do Caribe - Aeronáutica, e Salve Jorge - Exército. Eles devem morrer de saudades daquela época.

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  2. Eu até apoiava esse movimento, mas depois do que eu li aqui, fiquei na dúvida. Podemos estar criando um monstro muito pior do que Lula e Dilma. O tiro pode sair pela culatra e o resultado pode ser muito pior: Aécio ou Campos no poder. Aí, seria o fim. Pena que Marina não pôde concorrer nesse ano, meu voto seria dela.
    Em resumo, se já assumimos o compromisso, não podemos voltar atrás. O melhor mesmo é ter essa Copa, e depois vem a verdadeira luta: nas urnas.

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