quarta-feira, 20 de novembro de 2013

De onde vem a palavra Brega?

As palavras que nós usamos por aí para detonar as pessoas podem ter origens que ninguém imagina! Por exemplo, a palavra brega é derivada de outro xingamento popular: xumbrega.
Esse xingamento veio de um general alemão, Von Schomberg. Ele era um mercenário que lutou na Guerra da Restauração, mas não teria nada a ver com o Brasil se não fosse pela revolta do “Nosso Pai”, também conhecida como “Todos Contra Mendonça Furtado”.
Essa revolta não é a mais popular nas escolas, e creio que só quem é de Pernambuco é que já tinha ouvido falar nela, mas foi mais uma dessas revoltas brasileiras que não deram em muita coisa.
Recife no seculo XVII.jpg
Pernambuco depois de
expulsar os holandeses
O ano era 1666, e a Capitania de Pernambuco lutava por reconstruir suas duas principais cidades - Recife e Olinda - destruídas com as lutas contra os invasores holandeses.
Os senhores de engenho, radicados em Olinda e com reservas quanto ao porto do Recife, queriam mamar mais nas tetas da Coroa Portuguesa, por não terem feito mais do que sua obrigação, que era enxotar os flamengos (outra forma de chamar os holandeses).
Portugal, entretanto, ignorou os caras e mandou para governar a Capitania o portuga Jerônimo de Mendonça Furtado (não confundir com Francisco Xavier Mendonça Furtado, fundador de Macapá (AP), nem com Diogo de Mendonça Furtado, que foi Governador-geral do Brasil entre 1621 e 1624), um estranho, que não tinha muito jogo de cintura pra lidar com o povo, matando de inveja e recalque todos os coronéis que queriam seu lugar.
Mendonça Furtado sofreu muito bullying por ter copiado o bigode de Von Schomberg, e por isso era apelidado pejorativamente de Xumberga ou Xumbregas (sacou?).
Reuniram-se os conjurados em casa do senhor de engenho João de Novalhaes y Urréa, dentre os quais o juiz de Olinda André de Barros Rego, os vereadores Lourenço Cavalcanti e João Ribeiro, e outros, a fim de deliberar a forma de dar um golpe e ferrar com a vida de Mendonça Furtado. A ocasião para isto foi a de simularem um Nosso Pai, que é o sacramento da Eucaristia ministrado aos enfermos que não podem sair de casa.
O legítimo Xumbrega
Schomberg
Eles usaram a estada, no porto do Recife, de uma esquadra francesa, que por ordem da Corte, foi bem tratada. Os coronéis malvados fizeram divulgar a notícia de que o governador estaria a serviço dos estrangeiros, que preparavam um ataque à província, e seu consequente saque.
Os coronéis se aproveitaram de que Mendonça Furtado curtia ir pra missa e sempre que encontrava um cortejo desses na rua, se juntava ao pessoal. O plano diabólico foi posto em prática na tarde de 31 de agosto de 1666, e como previsto, o burro do Mendonça Furtado caiu como um patinho na armadilha, acompanhando o falso cortejo.
Será que Mendonça Furtado era
um Zé Bonitinho do século XVII?
Desviado para uma igreja, ao dela sair, André de Barros Rego deu voz de prisão ao governador, que se rendeu, sem entender nada, sendo levado prisioneiro à fortaleza de Brum. Os franceses albergados foram perseguidos – uns conseguindo refugiar-se num convento, sendo outros presos.
Mendonça foi levado por uma frota que, da Bahia, levou-o de volta a Lisboa – onde mais tarde envolveu-se numa conspiração contra Afonso VI de Portugal, sendo degredado por isto para a Índia.
Coube ao pobre do Vice-Rei evitar um quebra-pau com os conspiradores: trocou o Xumbrega pelo André Vidal de Negreiros, que tinha fortes ligações com a colônia, já conhecia a galera, já havia exercido o cargo anteriormente e botou ordem na casa. Esta gestão, entretanto, durou por meio ano apenas: em junho do ano seguinte novo governador era empossado - não logrando o movimento de imediato maiores repercussões, senão a de que foi dos primeiros movimentos locais onde se fez presente o sentimento de brasilidade - ou nativismo.
Durante a Guerra dos Mascates era comum o povo cantar, zoando com Mendonça Furtado:

O Mendonça era Furtado,
Pois dos paços o furtaram;
Governador governado,
Para o reino o despacharam.


A peste já se acabou:
Alvíssaras, ó gente boa!
O Xumbregas embarcou,
Ei-lo vai para Lisboa.
Arnold Schoemberg
E de tanto cantar o Xumbregas, ele acabou ficando eternizado em nosso vocabulário, por ser sinônimo de cafona, ridículo, bizarro, estranho, feio, fuleiro, de quinta, o ó. Chumbrega também tá valendo! E acabou dando origem à palavra brega, que é uma maneira carinhosa de tratar quem é tudo isso e mais um pouco.

Uma outra fonte diz que veio do Compositor austríaco Arnold Schoemberg, "pai" da Dodecafonia, um estilo de som que os críticos apelidaram de "exagerado", "confuso", "dissonante", "feio", "descombinado". Ou seja, brega.
O brega também está nas músicas: O cantor Falcão é considerado a encarnação viva de tudo o que é brega. Sem falar no ritmo musical próprio, cantado nos bares e cabarés da vida representando a dor de corno do pinguço que vai beber pra esquecer dos pobrema, representado por Odair José, Wadick Soriano, Sandro Lúcio, Amado Batista, Reginaldo Rossi... 

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