quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Nova Ku Klux Klan aceitará negros, gays e judeus


Todo mundo sabe que a Ku Klux Klan (KKK) é a organização mais racista dos EUA. Eles são conhecidos por praticar atentados contra minorias étnicas e contra o Estado americano. Mas agora, parece que alguns membros querem rever os seus conceitos! Um dos mais famosos defensores da supremacia branca no estado americano de Montana está recrutando membros para uma nova formação da organização, que, segundo ele, incluirá negros, gays e judeus, e não será mais tão racista assim. Achou estranho? O Besteiras Bestificantes tenta explicar.

Quem teve essa ideia maluca?


John Abarr, da cidade Great Falls, disse ao jornal local “Great Falls Tribune” ser um homem “reformado”, e, por isso, começou um novo grupo ligado à KKK, que ele batizou de Rocky Mountain Knights (Cavaleiros das Montanhas Rochosas). Embora ele não diga exatamente quantos membros este novo grupo da KKK tem, Abarr afirma que a organização não irá discriminar as pessoas por sua raça, religião ou orientação sexual: “A KKK é para uma América forte. A supremacia branca é a velha Klan. Esta é a nova Klan”.

Sua declaração causou estranheza, pois, por muito tempo, ele se envolveu com organizações de supremacia branca nos estados de Wyoming e Montana, mas Abarr garante que suas opiniões mudaram lentamente. Um dos fatos que comprovariam isso ocorreu no ano passado, quando ele se reuniu com membros da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), uma das mais antigas e mais influentes instituições a favor dos direitos civis de minorias étnicas nos Estados Unidos. Este encontro inspirou o líder supremacista a organizar uma conferência de paz com a NAACP e outros grupos religiosos programada para meados de 2015.

Eu achei que era realmente uma boa organização. Não sinto que precisamos ficar separados”, disse Abarr à NAACP, à época.

Jimmy Simmons, um dos representantes da NAACP que se reuniu com Abarr no ano passado, é um dos que acreditam que ele está mesmo tentando mudar. Se Abarr cumprir sua promessa e realizar uma conferência de paz, ano que vem, Simmons disse que pensará “seriamente” em se unir ao congresso. O líder do movimento negro apoia a criação de uma organização fraterna inclusiva, porém ressalta que o uso das letras KKK ainda causa medo nas pessoas.

Mas nem todo mundo acreditou na sua mudança. Autoridades na Rede de Direitos Humanos de Montana estão céticos quanto ao movimento de aproximação de Abarr. Rachel Carroll-Rivas, co-diretora da organização, acha que Abarr não precisa usar a KKK para formar uma organização mais abrangente e que, se sua intenção fosse mesmo criar uma associação inclusiva, ele poderia apenas abandonar a KKK.

Já Abarr comentou que seu novo grupo da KKK é uma organização fraterna em busca de membros que querem lutar contra uma “nova ordem mundial” ou um “governo mundial”, o que ele teme que o governo federal americano esteja tentando alcançar.

Os membros que se unirem ao grupo ainda terão que usar as roupas e capuzes brancos e participar de rituais secretos, mas, segundo Abarr, o Rocky Mountain Knights será um grupo aberto e não discriminatório.

A estranheza dos defensores da igualdade racial é compreensível, pois a história do grupo nunca foi amigável com quem não era americano e branco.

Origem


A Ku Klux Klan (KKK) foi fundada em 1866, no Tennessee, como um clube social que reunia veteranos confederados, ou seja, soldados que haviam lutado pelos estados do Sul e que perderam a Guerra Civil Americana (1861-1865), que, entre outros fatores, foi provocada pela iniciativa do ex-presidente americano Abraham Lincoln de libertar os escravos (ele inclusive foi morto por um sulista). As duas palavras iniciais do nome da organização, "Ku Klux", aparentemente vêm da palavra grega kyklos, que significa "círculo". Já o termo "Klan" teria sido acrescentado para dar melhor sonoridade à expressão, além de fazer uma referência aos velhos clãs, grupos familiares tradicionais.
Pelo nome, já dá pra perceber que os membros criaram uma atmosfera mística em sua organização, já que seus militantes adotaram capuzes brancos e roupões fantasmagóricos para esconder a identidade e assustar as vítimas, principalmente os negros supersticiosos, e eram presididos por um Grande mago, que inicialmente era o general sulista mega-racista e xenofóbico Nathan Bedford Forrest. 

Ideais e Práticas

A KKK era uma entidade de resistência à política liberal imposta pelos estados do Norte após a Guerra Civil, que assegurava, entre outras coisas, que a abolição da escravatura fosse efetivamente cumprida. Assim, os negros livres e seus apoiadores brancos eram os maiores inimigos do grupo, por prejudicarem a tal da supremacia branca nos States. E para defendê-la, o grupo promovia atos de violência e intimidação contra os negros libertados, principalmente os que tinham conseguido faturar uns trocados depois da abolição.

A "justificativa" deles para tamanha perseguição se fundamentava no argumento de que os negros eram preguiçosos, inconstantes e economicamente incapazes (lembra algum discurso atual?) e, por natureza, destinados à escravidão. Eles, ironicamente, perguntavam: "os negros são verdadeiramente homens?" e metiam até Deus nessa história: "O Criador, nos elevando dessa forma acima do nível ordinário dos humanos, quis nos dar, sobre as raças inferiores, um poder que nenhuma lei humana pode nos retirar de maneira permanente". Tais teses são fundamentadas pela famosa Teoria da Evolução, de Charles Darwin, que considerava os negros como seres menos evoluídos, mais parecidos com os primatas.

Algumas das práticas opressivas incluía obrigar os negros, através de visitas-surpresa no meio da noite, acompanhadas por chibatadas e ameaças de morte, a votar pelos democratas (os republicanos eram assimilados aos inimigos do Norte, por causa de Lincoln, que era republicano) ou a se abster. Outra objetivava minar liberdades concedidas aos negros, principalmente a livre associação. Um certo número deles aderiu à Loyal League, que cultivava o pensamento igualitário de Lincoln e a partir de 1867, seus membros puderam portar armas. Eles também se rebelaram contra exigências de nortistas, como o ato de negar o direito ao voto de quem não jurou lealdade ao Sul e lutou contra as tropas do Norte, além de assassinar adversários políticos. Outro costume era atacar professores dos estados do Norte que iam para o Sul para dar aulas aos estudantes negros, que eram considerados traidores e responsáveis pela decadência. Eles recebiam insultos e cartas ameaçadoras que começaram diziam: "Antes do fim do próximo quarto [de lua], desapareça, professor ímpio de negros! Desapareça antes que seja tarde! O castigo o espera com tais horrores que nenhum homem poderá sobreviver". No Mississipi a repressão atingiu seu maior grau: escolas incendiadas, mestres roubados e muitos assassinatos.

Reação do governo


A partir de 1870, o governo americano decidiu enfrentar a organização com o Ato de Direitos Civis, promulgado no ano seguinte, que dava ao governo poderes para intervir em localidades onde a KKK não depusesse as armas.  Seis meses mais tarde, foi decretada a lei marcial em nove condados da Carolina do Sul, e em 1882, a Suprema Corte do país declarou inconstitucional a existência da KKK. Todas essas medidas fizeram com que a situação se acalmasse. Mas, a calmaria não durou muito.

Ressurgimento e Decadência


A nova KKK foi criada em 1915, no estado da Geórgia, e não era mais movida apenas pelo ódio contra os negros. Sua doutrina misturava agora nacionalismo e xenofobia, e a KKK passou a perseguir também imigrantes europeus e latino-americanos, católicos, judeus, negros, e posteriormente, os comunistas. Para os rebeldes do Sul, nostálgicos exaltados, os klanistas possuíam o status de heróis românticos, que buscavam defender valores patrióticos e tradicionais, calcados no modo de vida protestante e branco típico das cidadezinhas interioranas do sul dos EUA.

O retorno à atividade política se deu após o lançamento, em 1915, do filme "O nascimento de uma nação", de D. W. Griffith, baseado em romance de Thomas Dixon. Nessa obra o diretor, segundo afirma o guia de filmes de Jean Tulard, "não esconde a simpatia pelos sulistas e toma abertamente partido pela Ku Klux Klan". O presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, apoiou o filme. Para um de seus espectadores, o pastor metodista William J. Simmons, era uma revelação.

Uma cruz em chamas se tornou o símbolo da nova organização, que ganhou muita popularidade, chegando a ter 4 milhões de membros. Mas, com a Grande Depressão dos anos 30, ela perdeu força novamente, apesar de ter voltado à ativa na década de 60, durante os movimentos pelos direitos civis, que defendiam a igualdade racial nos Estados Unidos. Tamanha perseguição dos supremacistas fez com que os oprimidos pela KKK se organizassem também, como os liderados por Martin Luther King e Malcolm X. No fim dos anos 70, grupos anti-Klan deram o golpe final na organização ao atingir o bolso dos líderes racistas, exigindo nos tribunais grandes indenizações para vítimas de seus atos violentos, e desde então, a KKK vem sofrendo com sanções do governo e da sociedade. Embora a Ku Klux Klan ainda exista, sua força hoje é pequena. A maioria dos militantes radicais aderiu a grupos ainda mais violentos de defesa da supremacia branca, como a Nação Ariana e outras organizações ligadas ao neonazismo, e o grupo prevalece nas comunidades mais atrasadas economicamente dos EUA, embora um ligeiro aumento no número de membros dessa organização tenha sido notado depois da eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, em 2008.

Mas será que isso dará certo? Será que seu novo grupo não será perseguido pelos outros membros da KKK e por líderes de movimentos inclusivos? E será que os negros, gays e judeus vão topar entrar nessa? Isso só o tempo dirá!

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