Quem acompanha os noticiários certamente sabe que o Iraque estava se recuperando da invasão americana, e não deve estar entendendo o motivo desse país ter retornado às manchetes da pior maneira possível: com mais guerras sangrentas e morte. Assim, o Besteiras Bestificantes elaborou um post explicando pra você um pouco mais sobre o assunto.
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Histórico
O Iraque é o que antigamente se chamava de Mesopotâmia, reino bastante poderoso e influente da Antiguidade. Lá ficava a Babilônia, uma das regiões mais ricas e poderosas do Mundo Antigo. Depois, passou a integrar o Império Otomano, até que, com a Primeira Guerra Mundial, forças inglesas passaram a ajudar sublevações regionais contrárias ao domínio otomano.
Os limites e regimes do Oriente Médio definidos por um acordo de 1916.
Segundo o ele, o Reino Unido e a França dividiram as terras do meio
leste do Império Otomano em esferas de influência e uma série de
pequenos tratados após o final da Primeira Guerra Mundial definiram as
fronteiras finais, criando o Líbano, a Síria, o Iraque, a Jordânia e o
mandato britânico na Palestina (que abriria caminho para a criação de
Israel). As linhas foram traçadas de acordo com os interesses dos
europeus, sem preocupação com o que acontecia com as populações dos
territórios.Os países árabes que formavam o Império Otomano conseguiram manter, décadas após a independência, as
fronteiras demarcadas pelos europeus há quase um século - em parte por
imposição de governos autoritários que controlavam a enorme mistura de
etnias dentro de seus territórios.
Mais recentemente, em especial os três anos de revoltas árabes, liberou
antigas alianças e ódios que cruzam fronteiras - o que pode redefinir
Estados e poderes na região. A animosidade entre muçulmanos xiitas e
sunitas, os troncos rivais do Islã, podem ser os confrontos mais
profundos.
O Iraque foi, por anos, dominado pelo ditador Saddam Hussein (1937-2006). Em seu governo, Saddam nacionalizou o petróleo, algumas indústrias, perseguiu xiitas e curdos e se envolveu em conflitos, como o conflito contra o Irã (1980-1988) e a Guerra do Golfo (1990-1991). Tudo isso causou indisposições com a ONU, os Estados Unidos e a Europa, que impuseram sanções contra seu país e o acusavam de ter armas de destruição em massa (como hoje fazem com o Irã e a Síria). Até que em 2001, teve o atentado terrorista da Al-Qaeda que destruiu as Torres Gêmeas, e George W. Bush iniciou a Operação Foco a Sul, alterando a sua resposta estratégica, aumentando o número de missões e selecionando os alvos através das zonas de voo proibidas, com o objetivo de destruir a estrutura de comando do Iraque.Nisso, houve uma maior pressão por parte dos EUA para que o Iraque se desarmasse e cooperasse com as inspeções da ONU, mas com as insistentes dificuldades que eram impostas, aliadas à certeza por parte de Bush e de Dick Cheney (vice-presidente americano naquela época) de que o Iraque estaria metido até o pescoço com o grupo Al-Qaeda, do Osama Bin Laden, fez com que no dia 20 de março de 2003, tropas americanas e britânicas invadissem o Iraque. A guerra durou, formalmente, oito anos, e nesse período, Saddam foi capturado, morto, o Iraque elegeu líderes xiitas e o grupo terrorista Estado Islâmico foi criado.
O grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante
Foi criado em 2004, no começo da Guerra do Iraque, como um dos braços da Al-Qaeda, com quem rompeu posteriormente. Formado por extremistas sunitas, têm como objetivo criar um Estado muçulmano que inclua as zonas sunitas do
Iraque e da Síria. A violenta ofensiva do grupo tem apoio de sunitas
descontentes com o governo de Bashar Al-Assad na Síria e também com o
governo iraquiano xiita, que se negou a dialogar com os sunitas por temer perder o poder. Este grupo é conhecido pela sua implacável perseguição às minorias religiosas, como os cristãos e yazidis, e aos xiitas, que são maioria no Iraque, obrigando estes grupos a se converter ao islã, pagar uma alta taxa religiosa ($$$$$$) ou a terem uma morte lenta e dolorosa. A Veja tem um gráfico mostrando o avanço do grupo:
Por que os sunitas e xiitas se odeiam?
Essa rivalidade no Islã teve origem após à morte de Maomé, o fundador da religião. Os xiitas são mais extremistas, creem que a única liderança legítima era a que vinha da linhagem do primo e genro de Maomé, Ali e consideram ilegítimos os três califas sunitas que assumiram a liderança da comunidade muçulmana após a morte de Maomé. Eles acreditam que a adoção de princípios rígidos na vida garantiria o retorno
do último descendente direto de Maomé para governar a humanidade. Já os sunitas baseiam sua vida no Corão, livro sagrado dos muçulmanos, e na Suna, livro que contém preceitos estabelecidos pelos tais quatro califas. Adotam uma interpretação mais flexível dos textos sagrados e adaptam sua
crença ao tempo em que vivem. Sua ação política e religiosa é marcada
pela conciliação e pragmatismo, com o diálogo entre povos e religiões. Mas o grupo terrorista Estado Islâmico, que se diz sunita, não age de maneira conciliatória. Suas ações poderiam tranquilamente ser encaixadas como de grupos xiitas. Por isso, eles são enquadrados como jihadistas: acreditam que é necessária uma Guerra Santa liderada pelo califa para eliminar os que eles consideram infiéis da face da Terra. O califa do Estado Islâmico é o misterioso e desconhecido Abu Bakr al-Bagdadi, chamado pelo grupo de "califa de todos os muçulmanos".
Quem seria Abu Bakr al-Bagdadi?
Nascido em 1971 em Samara, ao norte de Bagdá, guerreou contra os EUA na Guerra do Iraque, onde teria sido preso e forjado a própria morte (quando os americanos anunciaram a morte de Abu Duaa - um dos pseudônimos de Bagdadi - em um ataque aéreo na fronteira com a Síria) para conseguir fugir. Mas em 2010, ele ressurgiu das cinzas, tomando o poder no grupo após a morte de dois líderes num ataque. Tem agido no Iraque e na Síria, mas quando a Al-Qaeda o ordenou que se concentrasse no Iraque e deixasse a Síria para outro grupo (o Al-Nosra), ele rompeu com a organização e quase leva a Al-Nosra junto em 2013, mas seu projeto de fusão deu errado e os dois grupos passaram a guerrear entre si. Todo esse culto à sua personalidade e os seus feitos o fazem ser considerado como um dos jihadistas mais poderosos do mundo.
Quais são os grupos perseguidos?
Cristãos: o cristianismo chegou ao Iraque com o apóstolo São Tomás, algumas
décadas depois da morte de Jesus, e a cristianização do
país pode ter se intensificado no século II de nossa era. Os caldeus, que representam a grande maioria dos cristãos do Iraque, formam uma comunidade católica de rito oriental. A igreja caldeia, cuja liturgia é feita em uma língua derivada do
aramaico - a segunda língua falada por Jesus - é considerada uma das
mais antigas igrejas cristãs. Surgiu da doutrina nestoriana à qual renunciou no século XVI, apesar
de conservar alguns de seus rituais. Os outros católicos são os siríacos
católicos, os armênios católicos e os católicos latinos. Entre os não católicos, os mais numerosos são os assírios
(nestorianos) e os outros são sírios ortodoxos e os armênios ortodoxos. Os cristãos são frequentemente associados às Cruzadas, promovidas pelos cristãos europeus para garantir o domínio na Terra Santa (Jerusalém e arredores). No período em que Saddam Hussein governava, eles não eram incomodados, por ele achar que não representavam uma ameaça, mas com a Guerra, os conflitos internos aumentaram e hoje o Estado Islâmico persegue e mata diariamente muitos cristãos, que antes das ofensivas, passavam de 1 milhão. Muitos deles vivem na província de Nínive (para onde o profeta Jonas foi pregar depois de passar uma temporada dentro de uma baleia), mas atualmente há uma fuga em massa.
Yazidis: São uma minoria de língua curda e que segue uma religião pré-islâmica, considerada como uma das mais antigas do mundo. Combinam elementos do zoroastrismo com Sufi Islã e crenças que remontam à antiga Mesopotâmia, creem que Deus e 7 anjos protegem o mundo, acreditam na reencarnação e tem um sistema de castas rigoroso (parecido com o da Índia), que determina quem pode
casar com quem dentro da comunidade. São perseguidos por islâmicos por isso, e uma das causas é um dos 7 anjos, chamado Malak Tawous - que é representado na Terra na forma de um pavão -
foi expulso do paraíso por ter se recusado a curvar-se para Adão, o que é considerado um sinal de bondade para os yazidis, mas os
muçulmanos o enxergam como um anjo caído e enxergam os yazidis como
adoradores do diabo. Atualmente, existem cerca de 600 mil yazidis no mundo. A maioria está concentrada no Irã, Turquia, Síria e Iraque. Lá, viviam no norte, principalmente nas cidades de Mossud e Sinkhar, mas com os avanços do EIIL, tiveram que se esconder nas montanhas, passando por privações. Segundo a Unicef, 40 crianças yazidis já morreram em ataques dos jihadistas do Estado Islâmico.
Curdos: Nativos do Curdistão, são a maior etnia sem Estado do mundo e vivem marginalizados em territórios da Turquia, Irã, Síria e Iraque. No Iraque, os curdos ficam em uma região rica em petróleo,
por isso, na década de 80, o ditador Saddam Hussein usou armas químicas
para matar 5.000 curdos. Eles também combatem os terroristas do Estado Islâmico, que não os poupam da perseguição e expulsaram muitos deles de seus territórios, como Sinjar, que fica a 50 quilômetros da fronteira com a Síria. Para combatê-los e retomar suas terras, os curdos iraquianos se uniram aos curdos sírios e turcos, sendo chamados de "peshmergas.
Esses conflitos podem fazer com que os EUA retomem o poder no Iraque?
O presidente americano Barack Obama vinha tentando se manter neutro quanto a esse conflito, ainda mais depois de ter retirado as tropas do Iraque em 2011, mas com o agravamento da situação, os Estados Unidos enviaram em caráter de urgência centenas de soldados ao país, que poderão até agir em conjunto com o outrora inimigo Irã, para apoiar o governo iraquiano. Se houver, a ação conjunta será algo inédito desde a revolução iraniana de 1979 e demonstra a urgência e a preocupação com o avanço da insurgência radical.
Em 7 de agosto, Obama autorizou a realização de ataques aéreos para defender as minorias que estão sendo massacradas pelos jihadistas no país, e o primeiro foi realizado no dia seguinte, 8 de agosto. Mas com a divulgação da morte do jornalista americano James Foley, mais países demonstraram preocupação com esse conflito, especialmente a Inglaterra, pois o terrorista que decapitou Foley tinha sotaque britânico. Sobre a morte e o grupo terrorista, Obama disse que o EI é um “câncer que precisa ser combatido antes que se espalhe (...) Nenhuma fé ensina as pessoas a massacrarem os inocentes (...) Não há espaço para o EI no século XXI". O democrata também garantiu que os Estados Unidos não vão mudar sua postura em relação ao Iraque. “Os Estados Unidos vão continuar a fazer o que deve ser feito para proteger seu povo”.
Em 7 de agosto, Obama autorizou a realização de ataques aéreos para defender as minorias que estão sendo massacradas pelos jihadistas no país, e o primeiro foi realizado no dia seguinte, 8 de agosto. Mas com a divulgação da morte do jornalista americano James Foley, mais países demonstraram preocupação com esse conflito, especialmente a Inglaterra, pois o terrorista que decapitou Foley tinha sotaque britânico. Sobre a morte e o grupo terrorista, Obama disse que o EI é um “câncer que precisa ser combatido antes que se espalhe (...) Nenhuma fé ensina as pessoas a massacrarem os inocentes (...) Não há espaço para o EI no século XXI". O democrata também garantiu que os Estados Unidos não vão mudar sua postura em relação ao Iraque. “Os Estados Unidos vão continuar a fazer o que deve ser feito para proteger seu povo”.
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